Para esquecer alguém por Rosana Caiado - Quando decidi esquecê-lo, era tarde, eram três da tarde, era esquecer ou passar outras tardes nubladas como aquela, apesar do sol tostando a calçada do lado de fora do apartamento. Abri as cortinas determinada a arrancá-lo do meu peito. “A primeira providência foi a mesma das heroínas de novela: tirar as fotos dos porta-retratos. A diferença é que as mocinhas das oito rasgam as fotografias, para, nos últimos capítulos, colá-las com fita adesiva. Preferi guardá-las dentro de uma caixa de papelão, que não podia ter motivos alegres (flores) ou tristes (chapado em preto), mas sim uma aparência neutra (listras), onde guardei também um punhado de cartas, cartões e bilhetes amarrados com barbante. A caixa era alta, do tamanho de uma gaveta, porque ele sempre foi um homem carinhoso em palavras escritas e também porque nossas fotos eram muitas, inúmeros flagrantes de momentos de paixão que talvez não se tenha notícia novamente ao redor do mun